domingo, 19 de outubro de 2008

Cântico Negro

Vem por aqui dizem-me alguns com olhos doces. Estendendo-me os braços,
e seguros de que seria bom que eu os ouvisse.
Quando me dizem: vem por aqui! Eu olho-os com os olhos lassos
(há, nos meus olhos, ironias e cansaços).
Eu cruzo os braços. E nunca vou por ali.
A minha glória é esta: criar desumanidade! Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem vontade, com o que rasguei o ventre a
minha mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios
passos. Deus e o diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe. Mas eu, que nunca principio nem
acabo, nasci do amor que há entre Deus e o diabo.
Ah! Que ninguém me de piedosas entrouxes.
Ninguém me peca definições!
Ninguém me diga: vem por aqui.
A minha vida é um vendaval que se soltou.
E uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou.
Não sei por onde vou.
Sei que não vou por aí.

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